sábado, 28 de abril de 2012

Arroz de gambas malandrinho

Em conversa com a Aurora, durante um belo almoço domingueiro, ficámos às voltas com o plural de arroz... Arrozes?

A formação do plural nos substantivos terminados em «n», «r» e «z» é feita acrescentando «es» ao singular; «dólmen/dólmenes», «colar/colares», «fugaz/fugazes». Nalguns casos, a formação do plural provoca a deslocação da sílaba tónica, como é o caso de «espécimen/especímenes», «carácter/caracteres», «júnior/juniores».
Não são conhecidas excepções à formação do plural nas palavras terminadas em «z». Assim, apesar de soar esquisito ao ouvido, é mesmo «arroz/arrozes», tal como «giz/gizes».
A palavra «arroz» é um substantivo não-contável ou massivo (substantivo que designa um conjunto cujas partes não se podem contar), à semelhança de «açúcar», «farinha», «mel». Apesar disso, estes substantivos admitem o plural, quando utilizado para designar diferentes tipos: «Pedi dois arrozes, o de marisco e o de tamboril»; «São de evitar todos os açúcares»; «Utilizei duas farinhas na confecção deste pão».

«Arroz», a palavra vem do árabe «ar-ruz», com o mesmo sentido; a erva, da qual se extraem os grãos, tem origem asiática e é cultivada há mais de cinco mil anos. Várias lendas envolvem este alimento.
Na Índia, para ceder ao amor do deus Siva, Retna Dumila exige-lhe que crie um alimento que possa ser apreciado por todos os seres humanos. Não sendo capaz de o fazer, o deus toma-a pela força. Dumila morre de desgosto e, quarenta dias depois, uma planta desconhecida nasce no seu túmulo; o arroz. Siva ordena que as sementes da nova planta sejam distribuídas por todos os homens. Um seguimento desta lenda conta que Dewi-Sri, esposa de Vishnu, não podendo corresponder às investidas de um apaixonado, pede aos deuses um fim idêntico ao de Dumila; e também no seu túmulo surge o arroz. Dewi-Sri é, na Índia, a deusa da orizicultura (cultura do arroz).

No Japão, conta-se que um rato escondia num buraco grãos de uma planta desconhecida. Um monge budista, querendo saber de onde o bicho os trazia, atou um fio a uma das patas do rato e seguiu-o até um país longínquo onde se cultivava o arroz.

«Eu dou-te o arroz!», expressão popular utilizada como ameaça de castigo físico ou no sentido de dar uma lição a alguém.
«Arroz fingido», expressão que indica qualquer forma de fingimento.
«Arroz queimado», expressão que se utiliza quando já não é possível remediar uma asneira.

NEVES, Orlando, Dicionário da Origem das Palavras. Lisboa: Círculo de Leitores, 2001.
NEVES, Orlando, Dicionário de Expressões Correntes. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000.
Dicionário do Português Atual Houaiss. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011. 2 Vols.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley, Nova Gramática do Português Contemporâneo. 18.ª Ed. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 2005.
SANTOS, António Nogueira, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 2006.

sábado, 7 de abril de 2012

As palavras são como as cerejas

Palavra de uso antigo, mas nova para mim. Descobri-a durante um passeio no cemitério do Alto de São João.

«Cendrário» ‒ é o local onde se guardam as cinzas de um cadáver.

O adjectivo «cendrado» equivale a «acendrado» e é um espanholismo; particípio do verbo «cendrar». O verbo deriva, provavelmente, do catalão «cendra», palavra proveniente do latim e que significa «cinza».

«Cendrar» ou «acendrar» tem vários significados: limpar com cinza; acrisolar; purificar; dar ou adquirir qualidades superiores; aperfeiçoar-se; pintar de cor cinzenta.

E, já agora, «acrisolar» é tirar as impurezas de um metal precioso, purificar no crisol (recipiente utilizado para misturar ou fundir substâncias), adquirindo também, naturalmente, o significado de purificação moral.

Diciónário do Português Atual Houaiss, Lisboa: Círculo de Leitores, 2011.